Minha Tia-avó sempre foi muito devota de Cosme, Damião e Doum. Tinha uma imagem deles em cima de um cofre. Perto das imagens, um copo de vidro onde colocava, como oferenda, três pirulitos que trocava semanalmente. Perto da imagem e do copo sempre tinha uma vela, que ela acendia para fazer suas orações.
Era uma pequena festa quando eu e minhas duas irmãs chegávamos à casa da Tia Doca, pois sabíamos que iríamos ganhar os pirulitos antigos que ela trocava e guardava para a gente na geladeira.
Três Santos, três pirulitos e três irmãs. Perfeito!
Mas, ela tinha outros sobrinhos e acontecia também de em alguma semana ela não trocar os pirulitos. Então, chegávamos lá e não tinham os pirulitos velhos e molengos que tanto gostávamos.
Foi aí que uma das minhas irmãs, a mais gulosa, pensando que Deus não vê as bobagens que crianças fazem, achava de dar uma "inocente chupadela" nos pirulitos que ainda estavam no copo como oferenda.
Não sei se foi por isso, ou apenas coincidência, mas sei que dos bolos que a Tia Doca fazia nos aniversários da gente, só os da irmã, "chupadora de pirulito dos santos", solava (viravam mesmo uma sola dura e sem graça). A pobre da Tia Doca a fazer um, dois, três bolos no aniversário dela e todos solavam. Ao ponto da minha mãe ter que comprar bolo pronto na padaria.
Não lembro como os adultos fizeram ligação entre os bolos solados e as chupadas nos pirulitos, não lembro se alguém chegou a ver. O que lembro é que fizeram minha irmã prometer, durante alguns anos, que o primeiro pedaço do bolo de aniversário dela, ela levaria a um jardim e ofertaria às crianças santas.
Só sei que nada sei, mas os bolos de aniversário da glutona pararam de solar.
Melanie
27/9/2006
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
OS PIRULITOS DE COSME, DAMIÃO E DOUM
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4 comentários, falta o seu:
Huahuahauha Muito bom!!!!
Uma vez, quando pequeno, estava passando em frente a porta de uma igreja evangélica (eu era católico na ocasião)onde havia um guarda-chuva pendurado fechado, pelo cabo. Eu então não me contendo entre varios gritos pentecostais, peguei o guardachuvas e joguei no meio dos fiés que pareceram gritar mais ainda, não sei se por dor ou por fé. Fato é que ao sair correndo levei um tombo que me esfolou bastante... fora o joelho da calça que se rasgou. Eu também liguei um fato ao outro. Sem contar que uma jovem, bonita por sinal, me disse ao sair na porta: "deus castiga". Engraçado que eu era criança, e jesus disse que o reino dos céus pertence a elas. Vai entender... se eu tivesse o conhecimento bíblico que adquiri quando adulto, voltaria lá todo esfolado para discutir.
Mas a maneira pura e inoscente com que se relacionam as coisas é fantástica !!! (literalmente) !!!
*Tenho sentido sua falta no meu blog.... ( se bem que o que escrevi ou o vlad escreveu no ultimo post é de fato confuso para se comentar algo )
Abração Lua !!!
Pois é menino e eu esqueci de falar no texto que a Tia Doca fazia TODOS os bolos, doces e salgadinhos das festas da família, tipo casamentos (aqueles bolos de 3 andares), batizados e etc.
off topic:
Sempre adorei cozinhar, qdo estava lá com uns 10 ou 11 anos comecei a pedir pra minha mãe me ensinar. Ela cozinhava muito bem, mas não gostava. Aí eu ia pra casa da Tia Doca e pedia para ela me ensinar. Essa mulher era "A Bruxa" na cozinha!!! Amarrava qualquer marido que quisesse pela barriga... Foi minha professora por muitos anos. Está se perguntando se cozinho bem? Acho que sim - he he he. Às vezes posto receitas aqui, mas meu mal é que normalmente não ponho quantidade dos ingredientes isso uso por intuição.
ADOREI a sua história do guarda-chuva. Acredito que as crianças são os seres mais cruéis do mundo pq elas fazem, ou falam, o que lhes vêm à cabeça de uma forma tão "angelical".
Sua história do guarda-chuva me fez me lembrar uma da minha filha quando estava no prézinho: Um dia ela chegou em casa falando que tinha uma menina recém chegada na turma dela, mas que ela não ia ser amiga dela não. Intrigada, perguntei o porquê. E ela "inocentemente" me respondeu que era pq a menina era preta. Eu quase surtei!!!! E abri uma conversa com ela sobre o respeito que temos que ter pelas pessoas que são diferentes da gente. Não falei só sobre cor, mas sobre tudo. Qdo ela fez pré-vestibular a melhor amiga, além de ter o mesmo nome, era preta. Acho que bani o preconceito e o desrespeito pelos "diferentes" de dentro dela.
Lua,
Você tem uma cara de bruxa que vou te contar! No melhor dos sentidos, é lógico. Você é MUITO bonita, diferente das bruxas dos filmes.
Achei muito legal essa história, e novamente essa questão dos santos... Outro dia eu fiz uma visita ao templo católico da "Nossa Senhora da Cabeça" (não me peça para explicar o porquê do nome, é uma longa história), aqui em SP, no bairro da Liberdade, e entrando lá vi uma série de imagens, muito bonitas, por sinal, dispostas ao longo da fileira de bancos. Haviam algumas que eu achei muito parecidas com as da tradição hindú, muito vívidas. Não sou muito dado ao culto dos santos, nem ao uso de imagens no culto (herança da minha fase protestante, eu imagino), mas fiquei ali por alguns instantes, e percebi as pessoas se aproximarem, tomadas pela fé, se aproximarem das estátuas, tocarem seus pés e fazer muitas orações. Aos pés da imagem da Mãe de Jesus, ao lado do altar, haviam sido colocados muitos arranjos de flores, vasos com flores silvestres plantadas, etc. Além de bilhetinhos com pedidos e agradecimentos.
Toda essa ritualística não tem nada a ver comigo, você sabe, mas quieto ali, observando, percebi que aquelas imagens todas têm uma razão de ser, e muitas pessoas (especialmente as de mais idade) as usam como uma espécie de canal para estabelecer conexão com o Divino. E entendi, mais uma vez, o quanto sou pequeno e incapaz (serzinho arrogante), para julgar as convicções alheias. Só sei que nada sei.
Graças a DEUS.
Merton
Qdo fui te lendo eu pensei exatamente o q vc falou. Não curto imagens, nem templos, nem rituais, mas (agora vc vai rir) tenho um Sto Antonio de plástico mesmo, mas bonitinho... minha guia preta e branca fica aos pés dele. Pq fiz isso? Não sei. Sei que olho essa composição e gosto, como gosto de ver alguns dos meus quadros e alguns do meu pai pelas paredes da minha casa. Pequenas coisas materiais que me ligam com o "sei lá o quê". É como já te falei, faço algumas coisas sem ao menos me perguntar os porquês.
Tenho umas "bruxices" que faço só pq quero fazer, pq deu vontade.
Acho que isso é mais ou menos a coisa das pessoas se aproximarem das imagens que mais lhes agradavam.
Vou te contar um segredo que só vc e o resto vai ler: (rsrs) não gosto de templos em geral, mas adoro entrar na igreja (sem ser hora de missa) e ficar ali sozinha, pensando, conversando comigo e com Ele. Um dia entrei em Alfa com um mosaico no teto, até qdo senti uma mão no meu braço e ouvi uma mulher me perguntando se eu estava passando mal. PQP não se pode nem meditar na igreja? Fiquei super sem graça.
Tem uma igreja da Nhá Chica em Baependi/MG que tem um desenho de um burro (acho q com a Maria sentada nele) e não importa em que lugar da igreja vc esteja, o burro sempre está com os olhos voltados pra vc. Imagina eu dentro dela.... ficamos lá, a burra e o burro brincando.
Beijos
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