O cartão ganhei do meu amigo Lula que foi me visitar no hospital. Se quiser clicar nele vai poder ler que coisa bonita que ele escreveu...
Este texto acabei de escrever para minha amiga Silvia. Não sei se mereci a grandeza de ter sido citada e qualificada de amiga. Mas tenho certeza que uma mulher de fibra, como ela demonstra ser, terá amigos, força, fé, carinho e uma belíssima estrada de luz. Não estamos aqui na terra para comer merenda e sim para aprendermos. Então, querida, nunca se entregue, mas aceite com fé.
Com amor universal e companherismo
Lua Nua
UM PEDAÇO DE MIM 2
Sei que as doenças nos humilham e nos fazem sentir absolutamente sós. Sei que elas nos trazem dúvidas tão profundas que passamos até a duvidar da nossa fé.
Tirei a vesícula com 21 anos e o rim esquerdo com 31. Daqui a 15 dias faço 50 e é por isso que vivo dizendo que "de vida ando no lucro".
Aos 21 quando fiquei com uma cicatriz dos seios ao umbigo, eu usava um artifício: todo dia de manhã eu tomava banho, vestia uma camisola e um quimono limpos e cheirosos, passava lápis nos olhos e batom, tomava café, esperava a visita do médico para trocar meu curativo e depois telefonava para casa. Quando recebi alta fui elogiada pelas enfermeiras, que nunca me ouviram reclamar, nem me viram chorar, mas me viram bonita, me viram ajudas outras pacientes no que eu podia e não me viram fumar escondida ou eu levaria um pito daqueles.
Aos 27 anos, cirurgia de novo. Um cálculo coralifórmico no rim esquerdo (ele tinha a forma de um coral e ocupava todo o espaço interno do rim). Com direito a furinho na pleura na hora da cirurgia e mais uma pequena cirurgia chamada dreno de tórax. Tive que fazer exercícios pulmonares e posso jurar que isso dói muito. Dessa vez eu não fumava e tentava não chorar muito, apesar de sentir dores horríveis. Engravidei sem querer poucos meses depois da cirurgia, mas meu organismo não conseguiu segurar, acho que ainda estava debilitado.
Aos 28 fui fazer um exame periódico dos rins e lá estava ele, "meu amigo coralifórmico". Marido e médicos queriam outra cirurgia e eu queria um bebê. O medo do risco de engravidar com um rim só me fez optar por engravidar ainda com os dois, mesmo que um doente. Marido e médicos em geral quase me bateram quando engravidei, mas eu tinha plena certeza que seria um menino forte. E é.
Aos 31 meu menino já tinha um ano e não pude mais adiar a chacina. Fui internada para uma tentativa de explodir o cálculo e só o nome do que ia ser feito em mim já dava medo - Nefrolitotripsia transnefroscópica(*). Fui internada já sabendo do risco que se este procedimento não desse certo eu teria que tirar o rim.
Não deu certo.
Meu marido não tinha coragem de me contar que tinha dado tudo errado e quando conseguiu fazer isso tive que ajudá-lo. Ele contava e chorava e eu respondia: "Mas sabíamos que isso poderia acontecer, então porque você está chorando tanto? Bola pra frente moço, vamos tirar esse rim podre que eu quero ir pra casa cuidar de você e dos filhos que agora são dois".
Fiquei uma semana internada esperando vaga no centro cirúrgico, mas como mexeram muito no meu rim, os fragmentos do cálculo não passavam mais pelo ureter, então fiquei com um dreno externo ligado a um frasco de soro, onde a urina proveniente do rim esquerdo pingava. Tinha que ser bem higienizado e, mesmo assim, corre-se algum risco por ficar uma porta aberta entre o exterior e o interior do corpo. E lá ia eu criando meus artifícios de vida: o frasco passou a ser meu cachorro, meu companheiro inseparável e lembro que na época dei até um nome para ele, mas hoje não lembro mais qual era. Na certa que minha vontade era atirar aquela merda na parede e ir embora dali, mas como eu não podia, pois o estrago seria maior... Aceitei o fato de ter um cachorro atado a mim até na hora do banho. Dessa vez chorei bastante e nem pensava em cigarros.
Não sei de onde tirei forças para isso tudo que passei. Talvez daí venha minha fé. Tinha pais nessa época (hoje falecidos), irmães, amigos, família e eles me ajudaram muito, me fortalecendo para que eu superasse esta fase. Mas minha maior força sempre veio do meu incansável marido e da fé em algo maior, pois eu sabia que estas seriam, apenas, pedras normais que se acha pelos caminhos de algo maior chamado VIDA.
(*) Cirurgia endoscópica sob anestesia geral para tratamento de cálculo renal superior a 2 cm e para os cálculos resistentes à quebra por ondas de choque. Através de uma pequena incisão nas costas do paciente, o endoscópio é introduzido até o interior do rim. O cirurgião visualiza o cálculo através do endoscópio e realiza a fragmentação e aspiração simultânea do mesmo.
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
UM PEDAÇO DE MIM 2
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13 comentários, falta o seu:
E tudo isso fez de você a mulher maravilhosamente forte e equilibrada que é.
Você é praticamente um livro lua, uma história de vida, e o que mais fascina é o fato da "energia" que sai de você, parece ser de uma pessoa que nunca passou por grandes problemas. Porque? Acho que os grandes problemas ficaram pequenos perto de você. Agora convenhamos... você "acertou a mão" com esse seu companheiro hein? Tomara que eu tenha tanto sucesso quanto você (com uma companheira é claro né Lua ¬¬). Acabei de associar agora duas imagens (vieram à mente por acaso):
-Uma que o texto passa, de uma pessoa em estado de recuperação, debilitada (fisicamente somente).
-Outra, de uma mulher que ama andar de moto (exige motos com mais cilindradas inclusive, adaptadas às mulheres) e se a irritarem, é capaz de pegar uma chave de rodas e sair correndo atrás das pessoas!
Abração Lua !
Vlad
Você me fez rir muito meu menino, mas muito mesmo, com sua forma de falar.
Outro dia o Chico esteve aqui e falou que já tinha lido alguma coisa minha, mas que algo dizia a ele que eu não era só aquilo, que tinha mais facetas e mais coisas a falar. Acho que ele tem razão...
Você não é a primeira pessoa que me fala dessa luz que irradio e que nunca vi. Talvez pq me vejo sempre como uma pessoa normalíssima que vive tomando suas porradas de vida...
Ah! Uma vez uma amiga foi fazer prova para tirar carteira de moto, estava nervosa e realmente não passou na primeira prova, veio chorando.
Falei pra ela: se vc quiser ser realmente uma motociclista a primeira lição que deve aprender é que moto foi feita para cair e motociclistas também. Partindo disso, é bom aprender que ser motociclista é: TOMAR TOMBO, BATER O PÓ DA BUNDA, LEVANTAR, SUBIR NA MOTO E TENTAR NÃO CAIR. Ela passou na segunda prova.
A vida talvez seja isso também, bater o pó da bunda pra cair ali adiante.
Tô no lucro, né?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Beijos
PS: Torço para que você ache o El Bigodón da sua vida, mas sem bigodes kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Ô, Comadre! :)
Nossa, mas que coisa!
Vc É mesmo uma coisa de doido!
Quem tem o prazer de conversar com vc (como eu) sente a luz que vc emana...não uma luz suave, mas algo como um caleidoscópio. Vc tem muita energia, alto astral e transmite isso...mesmo pela net.
Poucas pessoas conseguem continuar com tanto brilho após experiências relacionadas a doenças. Que bom que a sua serviu para polir ainda mais o espelho!
Sobre o apoio de seu marido, vc é abençoada por encontrar um companheiro de jornada leal...isso é complicado hj em dia.
Beijos, bruxa!
E que fique tudo sempre AZUL na sua vida!
Cris
Não tenho palavras para agradecer seu apoio, principalmente por ter exposto uma parte de sua história.
Eu fico triste por ter sido cogitado como sendo tão óbvio o fator cancer ou tumor em meu caso.
Eu fiquei triste por ver meu marido chorar como bebê por ouvir de um médico desinformado que corro um sério risco de vida.
Embora meu marido, Alexandre se ache ateu, me dá forças também, assim como o Felipe, o Tiago e o Lucas, 4 pérolas raras que tenho aqui ao lado.
Agora descubro que longe tenho outra pérola, vc!
Bjs no coração...
Lua, fiquei emocionada ao ler seu texto. Mostraste tão nua e real, tão lutadora e guerreira que fico feliz de ter aguentado tudo sem desabar por completo. Sua fé é grande e isso te basta. É ela e o apoio de quem amamos que nos faz criar forças do nada e continuarmos nosso caminho.
Estou a cuidar do meu, que vez por outra me aflige.
Beijos no interior de seu coração.
Cris
A D O R E I ser chamada de caleidoscópio, até pq eu adoro esse brinquedo. O meu sumiu e estou à cata de outro. Sou capaz de ficar horas olhando dentro de um deles, são imagens únicas, não se repetem e isso é quase mágico!
Concordo com vc, marido é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito... Sempre falo pra ele que eu o escolhi e não ele a mim, afinal de contas namorei mais do que ele. De todos eu fiquei com o melhor kkkkkkkkk ele adora essa parte.
Silvia
O médico não é só desinformado, ele também é uma besta, uma anta, um energúmeno, um pobre desnorteado, ou como falava meu pai: "uma besta quadrada" (nunca entendi o "quadrado"; nesse caso será que tem algo a ver com a raiz de Pi??? Por que Pi ao quadrado dá alguma coisa q não lembro.... Seria a medida de circunferência???? Ihh isso é para o Vlad).
Mas agora você já tem o Disque Alto Astral e "seus pobremas se acabaram".
O bom de se dividir algo com as outras pessoas é que passa a pesar menos. Faremos um rodízio com vc, ok?
Bruxinhachellot
Acho que o pior caminho é o da não aceitação... Ontem no Fantástico a Marília Pera falou algo realmente fantástico:
"Se você se debocha um pouco, a vida pode ser mais leve. A esperança com humor é uma boa filosofia de vida"."
Fechou!!! Por isso ela É a Marília Pera, no palco e na vida.
Nika
poucos tem uma desenvoltura como a sua garota, que parece ter nascido contando uma boa piada com intenção nata de fazer com que as pessoas se sintam bem
Isso foi culpa da minha mãe!!!!! Ela acreditou no médico quando ele falou que eu só sairia com uma cesárea. Como ela morria de medo de cirurgia, limpou a casa, foi à feira e eu lá chacoalhando.... Eu queria sair e ela agarrada nas panelas fazendo o almoço. Quando eu já tava quase saindo pela boca (dela claro!) ela chamou meu pai e foram pra maternidade.
Resultado: nasci na fila do elevador.
Você já viu que coisa mais ridícula, nascer na fila do elevador? O que se pode esperar de alguém que nasce na fila do elevador de um hospital público? Fazer o quê? Foi assim que tudo tinha a probabilidade de dar errado comigo, mas com jeitinho dá tudo certo.
Beijos em todas vocês moça...
Lua, você é uma guerreira.
beijos e magias :O*
Olá Lua, tudo bem?
Você é uma mulher fantástica, quando eu leio seus posts eu sinto uma garra, uma força de viver, é maravilhoso, é dificil até descrever. O que percebo pelos seus relatos é que vc nunca faz o papel de coitadinha, é isso é muito bom.
Abraços Fraternos
Cris Lisboa
Quando tirei o rim, às vezes minha mãe falava algo assim: Mas, minha filha, vc fazendo isso? Você é uma pessoa doente.... (etc, etc). E eu respondia: Mãe, quem é doente aqui??? Eu só não tenho 1 rim, mas sou absolutamente saudável.
Acho que "se encostar" nos problemas não vale a pena pq isso não nos deixa viver a vida plenamente.
Beijos
Oi, Lua,
O mundo dá voltas e mais voltas, nunca para de girar, e pessoas como eu e você nunca deixam de se encontrar! Essa é a maior maravilha do mundo, saber que existe quem ainda luta por fazer valer a pena. Pessoas que, mesmo sem pensar nisso, se tornam exemplos para todos!
Abraço do seu amigo que te ama!
Querido Merton
Tô só fazendo meu papel...
Tô te devendo comentários lá no seu espaço, mas ainda não acabei de ler os últimos 3 textos que você postou. Essa gripe me pegou feio e a 3 dias estamos q nem 2 lutadores de sumô: ela quer me derrubar e eu a ela.
Obrigada pela visita
Beijos
Mel, avise a Sil que um estudante de medicina é um cara que se acha Deus; um médico, tem a certeza de ser Deus! Nós, pacientes, somos "apenas" os locais do Universo onde ele fará luz e sombras... O lado bom desses Universos (ou Infinitos Particulares...) é que uns são teimosos e inventam de gerar vida e luz -feito você fez!- invés de uma penumbra. Se você ouvisse médicos, teria UM único descendente, não dois (ok, parece óbvio,mas, em se tratando de Darwinista xiita, 100% de diferença é muito!), que são seus filhos, a perpetuação de você(s) nesse pontinho abençoado do Universo, um planeta que entra em colapso a vistos olhos... Silvia, o que é uma besta quadrada ou pi ao quadrado é irrelevante, relevante são vida e dignidade humana. Uma pessoa querida lembrou a minha esposa que ela é gente. Você também é, nunca pare de perseguir seus sonhos! Nem de seguir sua cabeça! E se lembre, todos temos o direito de acertar e de fazer besteiras! Ah, sim, amigos são aqueles caras com quem dividimos umas coisas que são relevantes apenas para nós e para eles! E essa divisão enriquece a amizade, invés de definhá-la, ok? Siga os preceitos da medicina, mas se disponha a seguir "mais que prometia a força humana"! Não seja apenas "paciente", seja também "desafiante" do limite da medicina e se disponha a expandi-lo! (Houve um tempo em que médicos recomendavam sangrias...). Beijo grande para você, e lembre de Mel: o amor-próprio define MUITO do nosso futuro; se você está disposta, não será o médico que lhe determinará como "doente"! Mel, lembre de um troço: você nos ajuda a expandir nossos próprios limites! A ambas: para que adianta saber o valor de pi ao quadrado ou da raiz pi-ésima de pi?... deixem isso para computadores e máquinas e uns poucos humanos! Vale dizer que pi ao quadrado, em números, é um pouco menos que Mel! Mel é dez, pi ao quadrado dá uns 9,86... beijo para as duas, LD
LD
VOCÊ É UM BARATO!!!!! Por isso eu adoro vcs dois!! É o casal mais incrível que eu conheço.
Beijos nos 4
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