DEUS

Para mim, o maior questionamento do homem está no fato da morte existir. E a morte, como tudo que é desconhecido, dá medo.

Quando eu era criança achava que morrer doía, afinal de contas todos os adultos choravam quando alguém morria e eu chorava quando me machucava.

Acho que morrer não dói, mas dá medo.

E, talvez, esse medo faça com que as pessoas se agarrem tão fortemente às suas religiões, mas esta também não é divina já que foi criada por homens. Se for assim, Deus passa a ser feito à imagem e semelhança do homem e não o inverso. Mas será que o homem precisa lutar e matar tanto por sua religião e pelo seu deus?

Ele poderia apenas pautar sua vida pela dos idosos, como fazem os indígenas, pois estes sim trazem na bagagem o tempo vivido. Mesmo que essa vivência toda não tenha acontecido diretamente com ele. O tempo de vida faz com que ele conviva com os acertos e erros do ser humano, de alguma forma fazendo com que ele saiba o caminho.

Atualmente, quando queremos dar exemplo de fé usamos o islamismo, mas usamos a pior parte dele, o fanatismo religioso. Quem mora na cidade grande talvez nunca tenha tido a oportunidade de ver uma Folia de Reis. Ela é linda! Uma demonstração de fé humilde. O grupo para nas casas, pede licença, canta, reza, agradece. As pessoas da casa acendem velas, servem café fresco, bolo e pães para recebê-los, com honras de Estado, como se fossem os próprios Reis Magos em busca do Menino. E é com espírito religioso e não folgazão que os músicos da fé deixam seu trabalho e a família para cumprir sua missão de comunicar aos homens o nascimento do Salvador. Será que temos nos fanáticos e na Folia o mesmo tipo de fé, de religiosidade?

Mas afinal, passamos a vida inteira pautada no que irá acontecer quando morrermos ou seria melhor pautarmos nossa vida pelo que queremos dela? Não seria uma melhor qualidade de vida mais importante do que uma melhor qualidade de morte?

Acredito que se quando jovens recebermos ensinamentos equilibrados que nos faça optar por andar pelo lado luminoso da vida, buscando sempre fugir do lado obscuro, não precisaríamos tanto de um Deus a nos julgar, das religiões, dos santos e das igrejas que, para mim, foram criadas apenas para fazer com que os homens aprendam pelo medo um caminho a seguir.

Se observarmos pequenos preceitos de vida, que os índios já sabiam, veremos que estar em paz depende de: não matar, não roubar, respeitar a natureza como fonte da sua própria vida, aceitar as diferenças para que também aceitem você, cuidar do seu corpo na juventude para que possa usufruir dele da melhor forma possível na velhice, ouvir e ajudar a quem precisa, pois um dia estaremos no lugar dele, dividir o que nos é abundante, amar como quer ser amado, em suma, procurar sempre o caminho mais equilibrado não só para a sua vida, mas para a de todos. O homem nasceu só, morrerá só, mas depende dos outros para seguir sua vida com equilíbrio físico e psíquico.

Não devemos pensar na morte como forma de vida. Não sabemos de onde viemos e nem para onde vamos. Sabemos apenas que por um breve espaço de tempo vivemos nesse planeta. Não sei nem se Deus me criou e se me recepcionará quando eu morrer, mas sei que se eu procurar ter uma vida equilibrada terei um Deus dentro de mim independente de onde Ele esteja.