quarta-feira, 2 de agosto de 2006

UM PEDAÇO DE MIM



Talvez por ter começado a pensar muito cedo eu não tenha passado muito por questionamentos. Pode até ser por ter tido a sorte de ler bons livros, ver bons filmes, sei lá...

Desde menina extraio da vida os ensinamentos que têm relação com algo que já deve ter vindo pronto na minha cabeça. Sim, já me perguntei de onde viemos, para onde vamos, e, principalmente, o porquê de estarmos aqui e o que faremos quando nossas almas estiverem novamente unidas. Como nunca me propus a enlouquecer de vez, parei de me perguntar essas coisas e me concentrei em me perguntar "o quero ser", "que caminho estou trilhando", "é isso o melhor que posso fazer", "que semente deixarei nesta terra no dia que eu me for"?

Minhas respostas foram vindo pelos mais variados caminhos.

1) Da Bíblia herdei duas muito importantes:
- Me ajuda que te ajudarei;
- Faça aos outros o que gostaria que fizessem a ti mesmo.

E acho que elas são as bases para termos uma vida digna, respeitando as pessoas, independente de credo, posição social, sexo, idade, etc; e nunca esperando que a vida, saúde, liberdade, sobrevivência nos caia do céu. Deus não ajudará a ninguém, se antes disso não arregaçarmos as mangas e trabalharmos duro. Não falo só do trabalho que provê o sustento, mas do que molda e fortalece nossa alma.

2) Com Hermann Hesse aprendi:
- Nada posso lhe oferecer que não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo;
- Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: SER É OUSAR SER;
- São muitos os caminhos pelos quais Deus pode nos conduzir à solidão e levar-nos a nós mesmos;
- Quando se quer algo verdadeiramente e com suficiente força, acaba-se por consegui-lo sempre;
- O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso;
- O mal surge sempre lá onde não chega o amor;
- Para mim, o uso da força é proibido em quaisquer circunstancias, ainda que no interesse do "Bem";
- A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer de novo tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus. Este Deus se chama Abraxas (Nota: Abraxas é considerado um deus egípcio que incorporava o bem e o mal, a luz e a sombra, uma entidade masculina e feminina, não onibenevolente como o Deus Cristão. Em suma, é a atividade da diferenciação).

3) Com o filme "Harold and Maude" (lançado em 1972), que aqui trocaram para "Ensina-me a viver", aprendi que amor e respeito não têm idade, hora, ou lugar.
Tem uma cena do filme que Harold pede Maude em casamento, ficam noivos e ele coloca uma aliança no dedo dela. Eles estão sentados num banco, em frente a um lago. Ela fica feliz com o gesto dele, admira sua aliança nova, agradece, tira do dedo e a atira no lago. Harold, como era de se esperar, não entende nada, mas Maude lhe explica que lá dentro do lago ela jamais vai perder a aliança, pois sempre saberá onde está.
Em outra cena, ela rouba uma caminhonete e uma pá para poderem desenterrar uma arvorezinha doente e levá-la para uma floresta, onde crescerá com mais saúde. Na volta da empreitada, acabam roubando a moto de um guarda de trânsito que queria prendê-los. Chamo isso de caminho errado para causas certas.
Para mim, essas foram as duas cenas mais bonitas do filme, onde é valorizado o sentimento, o respeito pelas coisas vivas, e não a relação material desse sentimento (a aliança como um bem e a árvore, mesmo sendo de domínio da prefeitura).

4) Com meu grande Mestre, Jorge Amado, aprendi as inúmeras formas de Deus se manifestar em nossas vidas. Tanto com as putas do Bataclã, como com os meninos chamados de Capitães da Areia. Acho que Mar Morto foi o primeiro de um sem número de livros que li do Jorge.

5) Músicas, muitas... Sempre gostei mais das nacionais, pois elas me ensinavam as várias visões, ou posições de vida na língua que eu melhor entendia.

6) Nunca fui muito voltada à religião, a cultos, a adorações, mas no meu aprendizado tem um espaço ocupado por Chico Xavier e Allan Kardec. Muitos dos seus livros responderam meus questionamentos; que por incrível que pareça, eram muito mais "quem sou e qual o meu propósito de vida?", do que "quem é esse Deus que me criou?". Nunca achei que os maus são maus porque Deus os fez assim. Acredito mais que eles são maus porque nem todos nascem com os olhos voltados para a luz, cabendo a cada um de nós buscá-la em nossa caminhada.

1 comentários, falta o seu:

Anônimo disse...

Amei o seu blog. É lindo e construtivo. Beijo na Alma.

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