segunda-feira, 14 de agosto de 2006

UM DIA EM CAMPO GRANDE

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Um dia fiz uma coisa que qualifico como "feia".

Eu e meus filhos estávamos numa das avenidas mais movimentadas de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, e tinha acabado de comprar um corsa wagon, pretinho, novinho, com som e insulfilme. No banco do carona minha filha de 18 anos e no colo dela meu neto de alguns meses, meu filho de 10 anos no banco de trás e eu dirigindo. Acho que foi em 1997 e Campo Grande nunca, e em nada, se assemelhou ao Rio ou Sampa, pois sempre foi uma cidade calma.

Estávamos os quatro rindo, conversando e brincando, até que parei num sinal de trânsito. Entre os carros e o meio fio da ilha que separa um lado da avenida do outro, veio um menino. Um menino magro, de uns 10 ou 11 anos, com algo na mão que não identifiquei no ato se era um pedaço de madeira ou um tubo de papelão.

O vidro da minha janela estava meio aberto. Ele chegou e falou: "tia, dá um dinheiro?" - Odeio que me chamem de "tia"! - E num repente, enquanto eu pensava no que responder, ele enfiou o braço pelo vidro e tentou tocar a buzina. Minha reação foi rápida, de quem já estava prevendo e pensando no que fazer. Meu braço que estava pousado na porta levantou com rapidez, prendendo o braço dele entre o meu braço e a lataria do carro. No que respondi mais rapidamente do que meu gesto: "tira a mão daqui de dentro". Só ouvi uma voz fraca respondendo: "quê isso, 'tia', tá doendo!".

Ele tirou a mão de dentro do meu carro por impulso e a partir daí, por impulso sofremos ação e reação. Ele continuou andando paralelo ao meu carro e quando chegou à altura da traseira, deu uma porrada com o tubo de papelão e continuou andando no sentido inverso ao que meu carro estava.

Por instinto animal, ou corremos, ou reagimos. Reagi.

O sinal abriu e por impulso retornei pegando a pista contrária a minha e no primeiro retorno, voltei para a pista que estava. Parei, desliguei o carro, peguei uma barra de aço que serve de proteção contra roubos e trava o volante e o freio, saltei do carro. Lá no fundo ainda ouvi minha filha, com meu neto no colo, gritar: "mãe, não mata ele"!

Não matei, mas mataria.

Acho que essa foi uma das piores constatações da minha vida - de mim comigo mesma - nesse dia eu descobri que por legítima defesa, pelos meus filhos e neto, eu mataria.

Ou morreria...

7 comentários, falta o seu:

Ebooker disse...

Bom querida amiga virtual, na primeira reação, onde você prendeu a mão do garoto (que estava errado e era abusado) você claramente reagiu. "Toda ação gera uma reação". Na segunda, onde deu a volta com o carro e voltou para a pista onde estava e desceu do carro, já foi por vingança devido a pancada (com tubo de papelão no carro) certo? Não acho errado nada do que fez, nem feio. Só acho que esse tipo de coisa pode ter consequências pouco saudáveis, já que este tipo de gente (gente menos civilizada, não por opção mas por condições sociais desfavoráveis) costuma ter atitudes selvagens, e são covardes. Por exemplo, o infeliz poderia ter uma faca. E daí? Daí que você poderia levar a pior num confronto corpo a corpo com sua barra de ferro e sair no prejuízo por uma simples batidinha de papelão no seu carro. Eu não sou contra a vingança, mas acho que deve ser muito bem planejada, mas não acho que agiu errado, só se expôs demais, talvez por instinto de defesa, por seus filhos e netos e pela honra e orgulho, mataria, mas também morreria. É uma hipótese, certo? Mas é uma possibilidade também.

Abraços !!!!

*gostei da descrição via Google Earth !!!

)O(Lua Nua)O( disse...

Vamos brincar de Fred Gruger e irmos por partes?

1. Não sou sua amiga virtual, pelo simples motivo de que sou real e não uma fake (rsrsrs);

2. Pensei o mesmo q você: minha primeira reação foi instinto, a segunda não pensei como vingança, mas juro que não pensei em diferenças sociais/econômicas e sim como sendo ele um homem e eu uma mulher (não consegui passar isso no texto). Aí meu caro.... acabei de responder a todo o resto sem querer. Se um homem me levanta a mão eu perco o sentido do real. Posso morrer, mas levo ele junto. E não era nem pela batidinha do canudo de papelão no carro, era por respeito.

Dia desses sento e escrevo um "causo" de um dia que estávamos em 3 num bar e um ex-namorado da minha filha (pacífico de tudo) foi ao banheiro e um babaca puxou a faca pra ele. Fiquei entre ele e a faca, falando com o grandão "olho no olho" (tenho 1:62m). Nesse dia eu tb poderia ter "dançado".

Prefiro morrer de tombo de moto, facada ou tiro do que de doença.

Adorei (de novo) o seu senso e tudo que escreveu baseado nele.

bjs

)O(Lua Nua)O( disse...

Vlad,

Depois do que você falou e do que respondi, acrescentei uma frase no final do texto.

Bion disse...

Minha querida!
Vc reagiu como toda mãe reagiria em defesa de sua prole!
Estou embarcando hoje para os EUA com a família para curtir uma merecidas férias!
Até a volta!

)O(Lua Nua)O( disse...

Ótimas férias para vocês.
Bjs

H K Merton disse...

Cassetada!

Olha só, é fácil julgar quando estamos do lado de fora, e eu também sou desse tipo, perco a noção do real quando alguém ou alguma situação me tira do sério, embora hoje isso seja muito difícil. Mas concordo contigo, o que você fez foi muito feio. Uma criança dessas não tem a menor noção do que é ter um "Corsa Wagon novinho"... Provavelmente nunca teve nem um carrinho de plástico só dele. Por isso uma certa raiva das pessoas que possuem coisas que ele nunca teve e provavelmente nunca vai ter, apesar de errada, é absolutamente compreensiva. Além de tudo, a reação foi absolutamente desproporcional. Uma criança bate com um papelão no carro e você o mata com uma barra de ferro? Parece um tiro de canhão pra matar uma barata. Tô te desconhecendo... Mas, afinal, somos todos humanos falhos, isso não é?

)O(Lua Nua)O( disse...

HK

Acho que você não leu o que respondi pro Vlad, então vou repetir pra vc, tá bom?

Se um homem me levanta a mão eu perco o sentido do real. Posso morrer, mas levo ele junto. E não era nem pela batidinha do canudo de papelão no carro, era por respeito.

Ele podia ter 10 ou 11 anos, mas era um homem. Tá bom, eu mataria e isso não tá certo, mas não matei. Só tem uma coisinha: "da próxima vez, esse menino vai pensar 2 vezes antes de atacar um carro com uma mulher e crianças, no meu carro não tinha homem adulto dentro, mas tinha macho".

Foi isso que fiz, porque é assim que ensino para os meus filhos -> respeitar os mais velhos. Esse menino aprendeu o que é respeitar da pior forma possível.

HK

Sou pacífica, mas não sou perfeita. Nem é a minha vontade escrever nesse espaço que sou legal e tals. Escrevo minhas falhas, meus erros, meus medos e minhas dúvidas também.

Beijos

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