E quando tenho saudades vou lá e copio o que Ella escreve.
Ella é sempre muito coerente na escrita e vive falando as coisas do jeitinho que eu gostaria de dizer.
As Crias
Quando Alice se sentiu acusada por ser anti-social, explicou ironicamente, que quem queria um milhão de amigos e bem mais fácil poder cantar... Era o Roberto Carlos, ela não tinha 15 anos. Mais tarde aos 18 anos, raspou a cabeça, fez uma tatuagem e um piercing na sobrancelha. Foi acusada novamente de ser agressiva e com tendências auto destrutivas...Argumentou, rindo, que tinha que fazer jus à idéia que todos faziam dela, que a imagem que ela expunha era o reflexo dos outros!
Quando ela começou os primeiros passos eu a segurava pelas mãos e como um grande anjo eu levantava seus braços e ela caminhava na minha frente. Mais tarde eu a coloquei de pé e abri os braços para que ela aprendesse a caminhar sozinha sabendo do caminho seguro que percorria. Mais tarde eu a coloquei de costas para mim, ajoelhei e disse carinhosamente para que seguisse em frente. Ela aprendeu... e caia das primeiras vezes, e quando não caia mais, olhava para trás para ver se eu estava observando...E eu estava! Alice sorria vitoriosa, segura e eu aplaudia.
Quando ela caminhou e não olhou mais para trás eu senti orgulho e uma solidão infinita que poucos podem entender. Ela entrando no portão e me dando adeus. Voltei para casa contando as horas em que eu a pegaria novamente. Mais tarde, eu já não buscava, ela voltava sozinha e eu feliz e sem solidão, esperava.
Se hoje eu sei que ela tem a liberdade para sofrer as influencias do mundo externo, de ser atraída pelas ruas e sentir e assumir seus passos livres que eu mesma ensinei...Não me sinto agredida pelos alfinetes no seu supercílio, nem pelas tatuagens míticas que faz pelo corpo. Eu me preocupo essencialmente com a sua responsabilidade pelo próprio corpo, com as conseqüências dos atos longe de mim. E que ela sabe que se olhar para trás, recua, pede água porque sabe que sou seu oásis. Mas com absoluta certeza sabe também que sua parada é como um entreposto de recarga para seguir adiante. Ela cresceu e não foi a minha revelia. Ela cresceu porque eu e a ensinei a andar protegida e depois sem proteção. Ela cresceu porque todos crescem a nossa revelia e porque somos livres e conseqüentemente solitários por natureza. E que a única tentativa que podemos fazer é dar a segurança de um afeto que não impeça o vôo solitário.
Não existe nada sem preço e o preço da liberdade é a solidão.
Alguém já disse - Só é livre quem é sozinho. Eu, dolorosamente, concordo.
Ella
4 comentários, falta o seu:
A liberdade, ao fim e ao cabo, não é senão a capacidade de viver com as consequências das próprias decisões.
Mesmo que sejam decisões que nos doam, caro amigo...
Esse tu escreveu com dor. Foi um parto... Dá pra sentir isso, na leitura...
Merton
Esse eu não escrevi, quem escreveu foi a Ella, uma amiga minha que escreve muito melhor que eu as dores familiares.
Acho que é o terceiro texto da Ella que eu posto aqui. Todo belíssimos!
Beijos
Postar um comentário