quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

TENHO SAUDADES DELLA

E quando tenho saudades vou lá e copio o que Ella escreve.
Ella é sempre muito coerente na escrita e vive falando as coisas do jeitinho que eu gostaria de dizer.


Imagem D'Ella

As Crias

Quando Alice se sentiu acusada por ser anti-social, explicou ironicamente, que quem queria um milhão de amigos e bem mais fácil poder cantar... Era o Roberto Carlos, ela não tinha 15 anos. Mais tarde aos 18 anos, raspou a cabeça, fez uma tatuagem e um piercing na sobrancelha. Foi acusada novamente de ser agressiva e com tendências auto destrutivas...Argumentou, rindo, que tinha que fazer jus à idéia que todos faziam dela, que a imagem que ela expunha era o reflexo dos outros!

Quando ela começou os primeiros passos eu a segurava pelas mãos e como um grande anjo eu levantava seus braços e ela caminhava na minha frente. Mais tarde eu a coloquei de pé e abri os braços para que ela aprendesse a caminhar sozinha sabendo do caminho seguro que percorria. Mais tarde eu a coloquei de costas para mim, ajoelhei e disse carinhosamente para que seguisse em frente. Ela aprendeu... e caia das primeiras vezes, e quando não caia mais, olhava para trás para ver se eu estava observando...E eu estava! Alice sorria vitoriosa, segura e eu aplaudia.

Quando ela caminhou e não olhou mais para trás eu senti orgulho e uma solidão infinita que poucos podem entender. Ela entrando no portão e me dando adeus. Voltei para casa contando as horas em que eu a pegaria novamente. Mais tarde, eu já não buscava, ela voltava sozinha e eu feliz e sem solidão, esperava.

Se hoje eu sei que ela tem a liberdade para sofrer as influencias do mundo externo, de ser atraída pelas ruas e sentir e assumir seus passos livres que eu mesma ensinei...Não me sinto agredida pelos alfinetes no seu supercílio, nem pelas tatuagens míticas que faz pelo corpo. Eu me preocupo essencialmente com a sua responsabilidade pelo próprio corpo, com as conseqüências dos atos longe de mim. E que ela sabe que se olhar para trás, recua, pede água porque sabe que sou seu oásis. Mas com absoluta certeza sabe também que sua parada é como um entreposto de recarga para seguir adiante. Ela cresceu e não foi a minha revelia. Ela cresceu porque eu e a ensinei a andar protegida e depois sem proteção. Ela cresceu porque todos crescem a nossa revelia e porque somos livres e conseqüentemente solitários por natureza. E que a única tentativa que podemos fazer é dar a segurança de um afeto que não impeça o vôo solitário.

Não existe nada sem preço e o preço da liberdade é a solidão.

Alguém já disse - Só é livre quem é sozinho. Eu, dolorosamente, concordo.

Ella

4 comentários, falta o seu:

Anônimo disse...

A liberdade, ao fim e ao cabo, não é senão a capacidade de viver com as consequências das próprias decisões.

)O(Lua Nua)O( disse...

Mesmo que sejam decisões que nos doam, caro amigo...

H K Merton disse...

Esse tu escreveu com dor. Foi um parto... Dá pra sentir isso, na leitura...

)O(Lua Nua)O( disse...

Merton

Esse eu não escrevi, quem escreveu foi a Ella, uma amiga minha que escreve muito melhor que eu as dores familiares.

Acho que é o terceiro texto da Ella que eu posto aqui. Todo belíssimos!

Beijos

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