terça-feira, 6 de março de 2007

UAI-KAI - Rubens Alves

Folha de São Paulo - 20/02/07
Agora, na velhice, minha grande preocupação é o fim do mundo. A Terra está morrendo.


"Uai-cai" é o jeito mineiro de fazer hai-kais. "Uai", para expressar o assombro ante a vida. E "cai" para exprimir a tristeza de ver cair o que estava lá no alto.


"O último sabiá canta seu canto...
Que pena!
Já não há ninguém para ouvi-lo..."



Relendo a "A Ciência Alegre" de Nietzsche reencontrei-me com o seu texto mais famoso, aquele em que ele diz que "Deus morreu". E de repente, à medida em que eu o degustava antropofagicamente, o texto foi se apossando de mim, como se fosse vinho. Fiquei meio bêbado. E, na minha embriaguez eu troquei umas palavras. O texto ficou assim: A cena: um louco grita numa praça. Dirige-se àqueles que ali estão.

Eles riem e zombam. "O que aconteceu com a nossa Terra?", ele gritou. "Pois vou lhes dizer. Nós a matamos -vocês e eu. Todos nós somos seus assassinos.

Mas como é que fizemos isso? Como é que fomos capazes de beber os rios e comer as florestas? Quem nos deu a esponja para apagar os horizontes do futuro? O que fizemos quando partimos a corrente que ligava a Terra à Vida? Para onde ela irá? Vagará pelo Nada infinito? Esse hálito que sentimos, não é o hálito da morte? E esse calor! Os gelos estão se derretendo.

Já se vê o cume negro do Kilimanjaro, outrora vestido com a brancura da neve. O mar subirá. O sol está mais quente e mortífero. Temos de nos proteger contra os seus raios. E esse barulho que ouvimos em todos os lugares, o ruído das fábricas, o barulho das bolsas de valores não será, porventura, o barulho dos coveiros que a enterram? O ar que respiramos é o ar da decomposição.

A Terra está morta. Nós a matamos. Como poderemos nós, os assassinos da Terra, nos confortar a nós mesmos? A Terra, extensão dos nossos corpos, a mais sagrada, sangrou até a morte sob nossos punhais... Quem nos limpará desse sangue?" Relatou-se depois que, naquele mesmo dia, o louco entrou em várias bolsas de valores, bancos e indústrias e lá cantou o "Réquiem para a Terra Morta".

Retirado de lá e compelido a se explicar, a cada vez ele disse a mesma coisa: "Que são esses templos do progresso se não os sepulcros da Terra?"

Rubens Alves




NOTA DA LUA NUA:
Poderia ser tudo diferente, mas os caminhos da vida são tortuosos.

O ser humano não começou esta história de forma organizada e programada. Foi tomando tudo para si: florestas, povos, países... E o pior é que se prolifera indiscriminadamente. Mas sei que ainda poderíamos fazer um final diferente do previsto atualmente. Só que para isso precisaríamos ter muito mais do que trouxemos na alma, na nossa bagagem pessoal. Precisaríamos ter RESPEITO pela vida.

Teríamos que ver o Planeta de forma contínua, onde línguas e pátrias não fossem segregadas, pois na verdade não importa em que país moramos. Não importa se ele é rico ou se propõe a ser. Não importa se somos pretos, brancos, amarelos ou vermelhos, se somos ricos ou pobres, homens ou mulheres, jovens ou idosos.

Se matarmos o planeta, morreremos antes dele e não haverá mais quem ouça o sabiá.

6 comentários, falta o seu:

se melhorar estraga disse...

Querida Lua! Estou trabalhando feito louca e quase não me resta tempo para fazer tudo que quero. Lí os comentários de nossos amigos todos em meu blog, e fiquei feliz por fazer parte mesmo que um pouquinho da vida de vcs. A partir dessa semana puplicarei em meu blog uma história bonita que espero realmente que aprove...
Lindo esse seu post, espero que traga conscientização a muitas pessoas. Beijos açucarados...

)O(Lua Nua)O( disse...

se melhorar estraga

Que bom ler isso!!!!!!!!!!! Se trabalha que nem louca é porque a saúde anda a mil.

Vou procurar ser mais assídua no seu blog.

Tenho andado meio estranha... a vida anda me cobrando mais presença e fico menos na net.

Quero ler sua história, pois sou fã do que escreve.

Beijos

Anônimo disse...

Luinha amada!

Chegando agora...se ainda tivesse aquela prga do orku com ceteza seria da comunidade "chego de madrugada e vou p/ o pc"....mas madrugada nem sempre é sinônimo de balada.

A fotenha ái de cima...parece o rio Teles Pires...rio gigante e mágico que faz o interior do MT serve parte da floreata amazônica.Onde tantas vezes pesquei e nadei...

Só quem vive muito perto de um local mágioc e abençoado...como tenho o prazer de viver...entende o qto é importante a preservação...pesquei, sim...mas nas épocas permitidas...nadei sim...mas não nos locais onde poderia estragar a natureza.

Seu blog é lindo, um caleidoscópio mesmo...
Obrigada pelos textos...e, muito mais, pelo carinho, interesse e amizade. T6O sem tempo, Luinha...mas sempre terei tempo p/ pessoas que importam...como vc!!!!!

valeu pelos toques...e por todos os sorrisos...e tbém garagalhadas...que vc me provoca.

E eu, hien, que nào acreditava em Bruxas...las hay...
Bjocas!

Anônimo disse...

Sorry pelos erros de digitação...uahuahuahua....

Asfaz disse...

As fotos são lindas, mas infelizmente o texto é bem real ....

)O(Lua Nua)O( disse...

Cris
Fica fria, entendi tudinho rsrsrs

Mariposo-l
Bom para refletirmos o que queremos para nosso pobre planetinha doente...

Beijos nos 2

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