quarta-feira, 16 de março de 2005

FALANDO SOBRE PAIXÃO - III PARTE


HONDA STRADA 200C - VERMELHA & PRETA

O ano era 1995, e eu morava no Mato Grosso do Sul. Nessa época, minha mãe e duas irmãs moravam em Blumenau, e uma outra irmã estava se mudando também para a mesma cidade. Só que com ela a mudança era mais lenta e mais trabalhosa, pois estava mudando sua agência de publicidade também. Então ela ficava Rio/Blumenau direto e numa dessas vezes eu estava lá visitando minha galera.

Minha irmã levou sua moto para Blumenau, isso agilizava toda a correria burocrática para se abrir uma firma e quando eu cheguei ela precisava emplacar a moto, já que tinha mudado o endereço, mas ela não tinha habilitação. Eu já não andava de moto há, pelo menos, uns 8 anos e tive um pouco de medo. Mas a situação era: "ou eu, ou eu... ou sem emplacar", aí sobrou pra mim.

Foi subir na Stradinha e a saudade foi chegando devagar. Essa coisa de moto vicia, e mais do que viciar é um estado de espírito. Como meus filhos já tinham crescido bastante, meu espírito começou a voltar ao seu estado original, motoqueira.

Um ano depois minha irmã resolveu vender a Strada e acho que não preciso dizer quem comprou... E numa noite, em 1997 ela chegou dentro de um caminhão baú, vermelha, novinha, linda e... minha.

Acho que foi a moto que ficou mais tempo comigo, 4 anos, e quando começaram a aparecer os moto boys e seus baús nas traseiras das motos, ela ganhou um também, pois era extremamente confortável sair para as compras com um baú que cabe exatamente a quantidade de uma cestinha de mercado. Ali levei de tudo, até ovos de páscoa. Só que eu morava em uma cidade pequena e o papo que rolava é que tinha uma moto girl na cidade. As pessoas quando me viam na moto vinham perguntar se eu trabalhava com entregas, pois era a única moto com baú.

Essa moto nasceu vermelha na fábrica, mas mudou de cor.

Tenho um fraco por veículos pretos, e um dia marido saindo de casa para o trabalho, cruzou com o dono da casa lotérica que não tinha visão lateral e quase que passa em cima dele. Não passou, mas ele caiu e a moto ficou arranhada, e como ela ia pintar achei que era uma boa hora de mudar a cor. O causador do acidente arcou com os custos do conserto da moto e eu com os da alteração de cor. E ela voltou pra casa mais linda ainda, preta, e passou a ser chamada, carinhosamente, de Minha Pretinha.

Em 1999 Minha Pretinha volta para Blumenau, pois decidimos mudar para lá e eu ficava indo e vindo MS/SC. E foi quando eu comecei a pilotar na estrada aos cuidados do Gui, meu cunhadão. Eram pequenos percursos de 40 ou 50 km no máximo, mas foi assim que comecei a ser mordida pelo gosto realmente do vento entrando pelas narinas, coisa que pilotar na cidade não sentimos muito.

Lembro de uma vez conversando com meu cunhado e meu mestre de pilotagem de moto, contar que eu nunca tinha caído feio. Já tinha derrapado e soltado as motos 2 vezes no chão, mas cair com elas, nunca. Mas todo motoqueiro sabe que a moto foi projetada para cair, por só ter duas rodas e depende totalmente da habilidade do piloto, e que nada "nunca acontece". E um dia aconteceu.

Tinha um encontro de motoqueiros numa cidade a uns 150 km de Blumenau e meu cunhado perguntou se eu queria ir. Lógico que sim, eu nunca tinha pegado mais do que 50 km de estrada e essa seria uma boa oportunidade. Fomos em 3, o Gui, minha irmã e eu, um em cada moto. Iríamos encontrar um grupo de motociclistas num lugar chamado Parada I para seguirmos juntos para o encontro, mas como eu morava na cidade há pouco tempo não fazia a mínima idéia de onde ficava o lugar do encontro.

Estávamos passando por uma avenida que nossa pista estava livre e a outra engarrafada, e não gostei nada quando um imenso caminhão do corpo de bombeiros simplesmente invadiu a nossa via com a sirene ligada e voando baixo. Minha irmã e meu cunhado estavam a direita e encostaram e eu estava a esquerda e não tinha para onde fugir, resultado: fique de frente com o caminhão vindo a toda e por falta de opção, simplesmente cheguei o mais próximo dos carros da mão contrária e parei. Lembro que ainda pensei: "ele vai passar por cima de mim e nem vai ver". Não passou por cima, só tirou um fino. A situação me deixou de uma forma que o sangue fugiu Deus sabe lá pra onde e fiquei branca. Passado o susto seguimos os 3.

Uns 500m a frente entramos na BR e tinha uma rotatória, e como o Gui sabia que a Parada I ficava exatamente na rotatória, entrou nela pelo lado direito e minha irmã atrás e eu entrei pelo lado esquerdo. Erro de estratégia em cima de uma moto entrando numa das BRs mais violentas do Brasil não é uma situação confortável. Quando vi que eles atravessaram a estrada e subiram na calçada e eu teria que continuar numa estrada que eu não conhecia e nem sabia onde ficava o próximo retorno, olhei pelo retrovisor para ver se eu conseguiria atravessar a estrada. Numa pista uma carreta e atrás de mim uma pá carregadeira, aí optei por dar mais uma volta na rotatória. O que eu não contava é que ela estava cheia de areia. Cálculos rápidos e precisos foram necessários... Pá carregadeira ou tombo na areia? Bom, as chances de sobreviver a um tombo a uns 20 ou 30 km/h são enormes, a não ser que algum veículo passe por cima da gente. Então optei por chegar mais perto possível da ilha no lado esquerdo da rotatória, justamente onde tinha mais areia solta em cima do asfalto. Achei que o mais seguro seria parar bem perto da ilha e foi o que eu estava conseguindo fazer, se não fosse o fato de que meu pé escorregou na areia e BUUUUUMMM... Bunda no chão.

Normal né? Quem nunca tomou um tombinho besta de moto? É levantar, bater a poeira da bunda, levantar a moto e tocar pra frente... E é o que eu faria, se não fosse um pequeno detalhe: a moto tinha caído em cima do meu pé. O cano de descarga estava em cima da sola do meu tênis, meu pé virado pra baixo e eu sem poder fazer nada, pois levantar uma moto estando em baixo dela é muito difícil, mesmo assim eu tentei, mas o máximo que consegui foi tirar um pouco o peso de cima do meu pé e dar uma ajeitada para que ele ficasse o mais confortável possível em baixo dela. Quando o fluxo da estrada diminuiu, ouvi atrás de mim alguém falando:

- Corre Gui, que a sua cunhada caiu de moto.

Logo depois senti duas mãos em baixo dos meus sovacos tentando me ajudar a levantar, era um dentista/motoqueiro. Olhei para cima e falei: "não me levanta, tira a moto de cima do meu pé primeiro". Ai que mico!!! Maior tombo em frente a uns 40 motoqueiros com suas maquinas possantíssimas. Cheguei igual cachorro que caiu do caminhão de mudança: "cadê meu cobertozinho e meu pratinho de ração?". Cinco minutos depois a turma estava se preparando para sairmos e meu cunhado me chamou num canto e perguntou:

- Quer deixar sua moto aí e ir comigo na garupa?. Respondi:

- DE JEITO NENHUM!!!

Meu pai me ensinou a dirigir quando eu tinha uns 12 anos, foi um excelente instrutor e sempre me falava: "sofreu algum acidente, entra no carro e dirige para não dar espaço ao medo. Pode ser que se você não fizer isso o medo se instale e você perca a coragem de dirigir". E foi o que fiz, subi na moto e fui para o encontro pilotando. Ta certo que eu estava com um pouco de dor na perna e muito medo, mas eu sabia que podia vencer as duas coisas, e venci. Fui e voltei pilotando a minha moto.

Uma lição eu posso tirar desse fato: "NADA COMO TOMAR UM TOMBO DE MOTO DIANTE DE 40 MOTOQUEIROS PARA NUNCA MAIS SER ESQUECIDA".

Minha pretinha ficou comigo até abril ou maio de 2.000, foi quando eu passei na Honda e dei de cara com uma Twister. Ela seria lançada no mercado no sábado e eu saí da concessionária com uma preta encomendada na sexta-feira à noite, mas isso já é uma outra história...

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