Arnaldo Jabor
Não há remédios para a doença administrativa que assola o país
A sordidez do que acontece no Brasil é tal que até criticar o governo só serve para legitimá-lo. Este governo não merece nem uma crítica à “luz da razão”.
Não há remédios para a doença administrativa que assola o país
A sordidez do que acontece no Brasil é tal que até criticar o governo só serve para legitimá-lo. Este governo não merece nem uma crítica à “luz da razão”.
Tem que ser analisado como um exame de patologia clínica. Estamos sendo infectados por uma doença histórica. Chama-se “síndrome da incompetência generalizada”. Ou então, “falência múltipla dos órgãos públicos”.
Essa doença se espalha a partir do centro do Executivo, do topo da pirâmide do poder. Lula foi a bandeira de bolchevistas e intelectuais durante décadas. Era a esperança do velho populismo e dava um rosto operário concreto aos ideólogos. Controlado pelos comandados de Dirceu, acabou eleito pela habilidade realista de um publicitário. Com a intervenção salvadora de Jefferson, Lula criou sua própria doutrina, que hoje se derrama sobre todos os aparelhos do Estado e se infiltra, pelas alianças, nos outros poderes. As características dessa doença que infecta o país são oriundas de uma vasta cepa de germes históricos e ideológicos.
Há uma cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo com ecos stalinistas, que se cruzou com o germe do sindicalismo oportunista, com o estafilococos do populismo pós-getulista, formando um novo tipo de micróbio que, com a baixa imunidade da democracia representativa, se espalha de forma profusa e letal. Essa doença grave fica muitas vezes dissimulada pela figura de Lula, com seu carisma de símbolo, assim como certas febres podem levar a alucinações enganadoras.
Lula não ama o povo. Ao contrário, quer ser amado por ele. A recente vaia que o “magoou”, feriu-o por ele se sentir uma espécie de pioneiro da ascensão social, que ele diz desejar para todos. Aliás, a crença de que o homem “de esquerda” pensa no “bem” real do povo é mais uma falácia herdada da tradição.
Stalin amava o povo? O povo é visto pelos totalitários como uma “massa” (nome usado por eles) a ser moldada como uma máquina humana se reproduzindo sempre, obediente a líderes. O “povo” não é visto como seres para brilhar ou florescer, mas para ser controlados.
O recente “top, top” do velho Marco Aurélio é a metáfora simétrica da vaia: “vão ter que nos engolir!” – a opinião pública e a imprensa, imprensa, o inimigo maior...
Outra característica dessa anomalia é sua espantosa incapacidade administrativa. A idéia de “competência” é vista com desconfiança, inclusive teoricamente, como já foi relatado por intelectuais como Marilena Chauí, porque a competência técnica pode “encobrir um desvio neoliberal, de direita”. “Administrar” é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar, coisa de capitalistas. A incompetência paralítica deste governo é uma mistura esquisita de restolhos de slogans socialistas com uma adesão custosa e desconfiada ao nosso subcaptalismo, a não ser nas regras “macro” que FH deixou, em que Lula, por instinto, não mexe.
Esta ambigüidade paralisa processos e projetos.
Nosso Estado quebrado não pode fazer desenvolvimentismo, e a desconfiança congênita da iniciativa privada impede o crescimento. Só respeitam os bancos e os grotões eleitorais. Isso, misturado a uma vaga idéia de “futuro” que habita a tosca cabeça dos sindicalistas oportunistas e velhos bolchevos, cria uma desvalorização do “aqui e agora”, como se o “presente” fosse algo desprezível. Assim, tudo fica parada no ar, nada sai do papel. As promessas e os anúncios bastam, a realização é supérflua.
Sem falar na infecção do baixo aliancismo – o que faz a roubalheira ser vista quase como um mal necessário e inevitável (“Oba”), o que permite a predação da República com a consciência limpa.
Também a invasão de cargos técnicos por hordas de sindicalistas sem preparo, ignorantes gera a infecção da burocracia labiríntica. A confusão mental e a obsessão paranóica da “conspiração” criam mecanismos de defesa que impedem qualquer eficiência, em nome de uma vigilância contra os inimigos (nós). Assim, nada anda com o passo eficaz do capitalismo. Em dez meses de caos aéreo, com 354 mortos, só agora se tocaram para o óbvio de medidas anunciadas e que talvez nem sejam cumpridas. A isso, claro, some-se o caráter preguiçoso e deslumbrado do Lula, que se declina por todos os escalões do Estado, como uma degeneração de qualquer fé ou iniciativa. Se o comandante berra “Dane-se”, todos depõem suas armas. Além de não saber o que fazer, Lula não tem saco para nada. Sua atitude de se colocar acima da política cotidiana desqualifica a própria política, como sendo coisa menor, o que é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos.
Por outro lado, como a economia mundial é favorável, temos a impressão de saúde, e os danos ficam ocultos e só ficarão claros com a próxima crise. Em vez de ser usada, a economia mundial está sendo abusada, como uma droga entorpecente. Pela ausência de projetos, resta aos donos atuais do poder manter comprado o apoio das “massas”, com Bolsas Família e aumentar gastos públicos em contratações e falsas iniciativas. Tudo que tinha de ser reformado não o será, pois “reforma” repugna revolucionários.
É isso aí. Tudo que o governo anterior introduziu e que poderia nos fazer avançar foi paralisado.
Estamos diante de um grave retrocesso histórico. A tragédia de Congonhas é uma metáfora sinistra de nosso momento: o avião estava muito veloz para frear e muito lento para arremeter. Como o Brasil. Não só nada avança, como o que antes funcionava está quebrando.
Além disso, os germes cruzados com muitas cepas, fortalecidos por décadas de superstições populistas, são muito resistentes. Não há antibiótico conhecido contra esses micróbios.
Nenhum, muito menos o PSDB, que morreu contaminado por si mesmo.
NOTA DA LUA NUA: Esta matéria saiu no O Globo de ontem. Jabor tem conseguido falar o que a maioria dos brasileiros gostaria, mas nos calamos, ou por não termos acesso aos meios de comunicação ou não termos mais esperanças. Mas eu ainda acredito que nem tudo está perdido, apenas precisamos de mais força e união.
OBS: O tempo aqui anda uma loucura! A cada dois dias entra uma frente fria nova, normalmente vinda da Argentina. Essas não são temperaturas que o brasileiro esteja acostumado.
6 comentários, falta o seu:
Quanto ao texto discordo em algumas partes do Arnaldo. Se as leis forem comprida na íntegra. Muita coisa não existiria.
Quanto a foto... poderia dar mais uma incrementada o Corel 12 e o X3 tem vários recursos para isso.
Em vez da lua e estrela ... a próxima pendura sal grosso ... pimenta ou até uma ferradura... uma coruja... assim a proteção seria maior...
Quanto aos scraps tenha mais de 300 amigos virtuais fora o orkut e para responder um por um é um pouco difícil. Deselegante é aparentar uma coisa sem ser...
Sua Consciência ou melhor, Valéria,
Quando passar por aqui pode deixar seu nome e seu link certo, o http://fotolog.terra.com.br/aviator5 pois não mordo.
Quanto aos seus mais de 300 amigos fora os do orkut, se relacione com eles como se sentir mais à vontade. Como não faço parte deste seu não seleto grupo, não precisa deixar spans nos meus espaços, concorda?
Só mais uma coisa: "Se as leis forem comprida na íntegra." talvez ninguém as cumpra por excesso de comprimento.
Tenha um bom dia.
Valéria,
Se você não entendeu, vou explicar: você fez algo que não gosto - deixar spam de comentários, ou seja, montar um texto e sair pela internet colando em todo lugar que você entra.
Já que você deixou o tipo de comentário que gosta, isso me deu o direito de ir ao seu espaço e avisar que não gosto. Entenda, apenas avisei. Entrei no seu espaço SOMENTE UMA VEZ e avisei.
Entenda, por favor, que não quero mal algum a você, quero apenas por um ponto final nisso, mas acho que você não consegue entender.
Suas histórias copiadas e coladas não me interessam, seu comentários não me interessam e você não me interessa, pois não coleciono "amigos", eu os tenho porque algo entre um e outro cativou a esse ponto.
Faz um favor? Vê se me erra!
sim, em ingles, "bungling incompetence"
Lua!
Gosto bastante do Jabor, e esse texto dele é perfeito.
Estou com vc, também acredito que nem tudo está perdido, certeza que não!
Beijosssss
Oie Mel,
Ausento-me por um tempinho e tu já saiu na porrada? (risos)
Leva na calma, a (in)consciência é um tapa que sempre se toma sem nunca dever ser sentido.
Blessed Be
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