quinta-feira, 18 de junho de 2009

A MORTE DE UM VALOR SOCIAL

STF RASGA O NOSSO DIPLOMA
Márcio Proença

Muitas vezes afirmo que o Brasil não é uma casa arrumada. Muitas das vezes me encontro desejoso de cair fora e dizer: "Brasil, nunca mais". Sim, essa é a minha real vontade, pois, diante de decisões que representam um retrocesso, como a derrubada do diploma de jornalismo nesta última quarta-feira, 17 de junho, me sinto enfraquecido, envergonhado em ter que mostrar em outra nação - civilizada - meu passaporte e deixar saber que sou de nacionalidade brasileira. No momento sinto que esses últimos quatro anos não me servirão em nada e que o diploma que terei em mãos provavelmente terá valor zero perante os donos das empresas de comunicação. Atualmente sou estudante do curso de jornalismo, cursando o sétimo período - penúltimo período - e minha turma tem previsão de conclusão do curso em dezembro do ano corrente, mas olho para trás, olho a luta de todos que se debruçaram sobre livros, esquentaram cadeira de faculdade por quatro anos, investiram parte de seus salários em algo que acreditavam ser o caminho certo para uma melhora em todos os sentidos profissionais, intelectuais, etc. e que agora têm mais essa manga para chupar, pois devido à desqualificação e equívoco imperdoável como é o caso dos membros do dito STF, em Brasília, sentimos ter andado léguas e não chegado a lugar nenhum.

Até quando vamos ter que conviver com essa corja que não reflete nossa sociedade? Com certeza Gilmar Mendes cometeu um erro sem perdão e digo que pelo currículo desempenha muito mal o cargo de Ministro do STF, não deixando de fora os demais ministros que compõem aquela dita casa - que parece mais um circo de concreto armado - de onde saem os absurdos como o caso de Daniel Dantas e tantos outros que a sociedade brasileira tomou conhecimento somando-se agora o fim do diploma para o exercício de jornalista. A grande ironia neste absurdo está na seguinte análise: em uma das leituras realizadas no STF, afirmou-se que a obrigatoriedade foi concebida há quarenta anos, em governo ditatorial; resumindo, os ministros rasgaram indiretamente o nosso diploma e pregam que a liberdade de expressão deve assistir aqueles que nunca passaram por uma faculdade. Mas, quem é Gilmar Mendes para divagar a respeito da ditadura, ademais sobre a obrigatoriedade, ou não, do diploma de jornalista?

É um extremo absurdo que profissionais os quais passaram por toda a “sorte” de dificuldades para serem diplomados legitimamente jornalistas, fiquem à mercê de decisões estapafúrdias provenientes de um cidadão que criminaliza os movimentos sociais deste país, como o Movimento dos Sem-Terra (MST), e, pasmem, defende abertamente os torturadores da ditadura militar, quando o governo Lula tentou revisar a Lei da Anistia, segundo foi publicado na mídia. Mas também o que eu posso esperar de um país onde a justiça é tardia e falha? Onde posso por meus pés e dizer que sinto orgulho de ser brasileiro, se meu país só pensa em samba, futebol e bundas enquanto a saúde e educação, bases fundamentais de sustento para uma sociedade, só dão notas desafinadas e marcam gols contra? O que podemos esperar deste país onde seu presidente tem a CARA DE PAU em dizer que emprestou dez bilhões de dólares ao FMI enquanto aqui dentro tudo vai de mal a pior?

Volto a argumentar: De onde este senhor tirou a infeliz afirmação de que todo cidadão, repito, TODO, tem direito a ser jornalista? Onde está a bendita liberdade de expressão, quando se há a defesa lacônica de torturadores do regime militar? O que esperar de um ministro do judiciário que concede um habeas corpus ao banqueiro e corrupto Daniel Dantas? O que esperar?! Ora, a desintegração do diploma de jornalista!

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade a qual defende inteiramente a obrigatoriedade do diploma, Sérgio Murilo Andrade, resumiu, como um bom jornalista diplomado sempre faz, a sensação que companheiros de classe, temos agora a respeito desta decisão: “Deixamos de ser uma categoria para sermos um amontoado”.

Gostaria de enfatizar que estou defendendo uma classe que não se considera privilegiada por possuir um documento que prova sua legitimidade, portanto, meu intuito não é atacar quaisquer jornalistas que possuem, ou não, o direito adquirido. Muito pelo contrário, apenas defendo que elementos teóricos na vida de um profissional jornalista é essencialmente relevante para o exercício cotidiano da profissão.

Porém, não devemos nos curvar perante tal arbitrariedade imposta à nossa classe. Não devemos nos abater pensando que fomos “minimizados” pelas mãos de um poder judiciário caolho; devemos sim unir todos os jornalistas diplomados, e os que concordam com a obrigatoriedade do curso superior, para não permitirmos o pandemônio aqui citado tomar conta de uma profissão honrada, séria e comprometida com os interesses gerais da sociedade.

Aos meus olhos chegamos à morte de nossos valores sociais e ética. E para terminar esse texto gostaria de convidar você para a reflexão da letra "Perfeição" de Renato Russo onde o poeta retrata isso nos convidando para uma celebração da falta de amor, agressão, violência e injustiça social.

Perfeição (Dado Villa-Lobos - Renato Russo - Marcelo Bonfá)

1.
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade


2.
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã

3.
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(a lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

4.
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso com festa velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção

5.
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.


NOTA DA LUA NUA: Toda vez que o Brasil consegue andar de burro a cavalo ele retroage e anda de cavalo a burro. PQP que merda heim!?!?!

Mas sei que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente
A esperança dança
na corda bamba de sombrinha...

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