quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

DIA DOS PAIS, DO MEU PAI...



Não gosto de datas pré-estabelecidas, dia disso, dia daquilo. Acho isso tudo tão comercial.

Nunca senti necessidade de um dia especial para lembrar do meu pai.

Não preciso de uma data para olhar as flores que nascem no jardim da minha casa e lembrar que ele as adorava tanto que ia às pracinhas à noite roubar mudas.

Não preciso de um dia dos pais para olhar os canários que comem as sementinhas que botamos pra eles e lembrar que meu pai criava canários e os amava, ficava horas perto deles e conhecia de longe o canto da cada um, como se fosse seus filhos falando.

Sua morte não foi um corte na nossa relação, nos relacionamos até hoje.

Quando vim morar nessa casa, olhei para ela, andei pelo jardim e pensei: "Linda, né pai? Você vai gostar de vir me visitar aqui. Ela tem plantas e canários, tem seu genro, eu, seus netos e seu bisneto, e sei que você passeia entre a gente porque mesmo não te vendo eu te sinto por aqui".

Não preciso de um dia especial, só preciso fechar os olhos e abrir a alma para me sentir indo ao encontro dele, me sentir abraçada e saber que continuo sendo amada por ele.

Na Terra ele foi um homem muito simples sem ter tido a possibilidade de estudar muito, mas tinha muita sabedoria acumulada no espírito e soube me ensinar coisas simples. Soube me fazer ver a força do respeito pelas coisas vivas, soube me ensinar que quando trapaceamos estamos enganando a nós mesmos e que quando caímos o melhor que temos a fazer é levantar, bater o pó da bunda e tocar em frente, sabendo que outras quedas virão, e que isso faz parte da escola da vida.

Ele me ensinou a colocar o coração na frente das decisões, mas antes disso fazer cálculos racionais meticulosos para diminuir a margem de erro.

Ele me ensinou a não ser submissa e a lutar até o fim pelo que eu quero e me falava para não abrir mão dos meus princípios se eu tivesse certeza que estou com a razão.

Quando andávamos pelas ruas do Rio e eu era uma menina de pernas curtas, ele dava passos longos e eu queria acompanhá-lo. Isso me fez não ter medo de dar passos longos na vida.

Ele me ensinou que devemos chegar onde nossa mão alcança, mas sempre me falava que os bons negócios da vida dele foram feitos quando não tinha dinheiro, mas sim muita garra para consegui-los.

Ele me ensinou a amar as coisas e ter certeza que o homem é imortal, pois seus atos ficam gravados na memória dos outros homens.

E eu o amo porque ele fez de mim uma pessoa honesta e corajosa.

Como escreveu Hermann Hesse: SER É OUSAR SER.

E ele me ensinou a ser ousada.

Onde você estiver, obrigada pai.

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