quarta-feira, 31 de outubro de 2012

NÓS BRUXAS...

Sobre as bruxas e o sistema penal:

Livro: O Martelo das Feiticeiras -
Malleus Maleficarum (1484)
"O jesuíta Spee era o melhor poeta alemão de seu tempo, além de teólogo. Não era jurista. Foi encarregado de fazer confessar as mulheres que enviavam à fogueira e fez isso durante anos. Conta-se que um j
ovem lhe perguntou por que tinha os cabelos tão brancos apesar de sua relativa juventude, e que Spee respondeu que era pela quantidade de mulheres condenadas sem provas e pelos sofrimentos inferidos por juízes cruéis. Por certo que se referia a tribunais estatais, porque no seu tempo a bruxaria se havia secularizado.

Spee adotou um critério muito pragmático, pois evitou toda discussão teórica sobre a existência das bruxas e seu poder. Simplesmente dedicou-se a provar que nenhuma das condenadas era bruxa e que com o procedimento inquisitorial se podia condenar qualquer um por bruxaria Se bem que isso fosse suficiente para pôr em Duvida a existência das bruxas, evitava essa discussão.

Em seu discurso pode-se ver claramente que apela ao concretismo, ou seja ao ôntico e real do poder punitivo, o que o leva a condenar os juízes como homicidas (...) e a afirmar que o delito é uma construção processual: sem processo não haveria bruxas. Spee era um interacionista! Em sua obra, critica a compartimentalização do sistema penal (ninguém se importa muito com o que o outro faz); o catastrofismo, que só levaria a queimar toda a população; a seletividade criminalizante que só recaia sobre mulheres pobres e indefesas; a falsidade dos estigmas falsos (Satã não seria estúpido a ponto de marcar os seus para que os inquisidores o descobrissem) etc.

(...)

Assim como o Malleus (Martelo das Bruxas) consagrou a estrutura discursiva do uso ilimitado do poder punitivo, a Cautio Criminalis de Spee fundou a estrutura do discurso crítico do poder punitivo.

(...)

A estrutura crítica se observa muito claramente na Cautio quando Spee explica as razões pelas quais se mantêm a carbonização de mulheres. Ele afirma que a responsabilidade dessas iniqüidades obedece à ignorância do povo, à Igreja, aos príncipes e à corrupção.

(i) A ignorância do povo é uma expressão que se refere à falsa imagem da questão criminal, ou seja, às crenças populares a respeito das bruxas, que era a construção da realidade nos tempos de Spee; hoje, diríamos à criminologia midiática.
(ii) Spee refere-se por Igreja aos autores e doutores que reiteram os mesmos erros [reprodução ideológica]: criminologia acadêmica etiológica.
(iii) Os príncipes são responsáveis porque aceitam atribuir todos os males a Satã e porque não controlam o que seus subordinados fazem: exploração da criminologia midiática pelo poder e autonomização policial.
(iv) A corrupção se concretiza em que os inquisidores cobravam por cabeça de bruxa queimada e em que exigiam contribuições mafiosas para manter sua obra de defesa da sociedade: extorsão mafiosa.

(...)

Fala-se há algumas décadas da mudança de paradigma, ou seja, da passagem do paradigma etiológico ao da reação social. Foi isso, justamente, o que fez Spee em 1631. Sua obra está centrada no poder punitivo e se afasta do delito de bruxaria.”

Raul Eugênio Zaffaroni- A palavra dos mortos: conferências de criminologia cautelar



NOTA DA LUA NUA: Sei que tenho ficado bem silenciosa aqui no blog ultimamente, mas assim como a crisália precisa de um tempo de dormência para virar borboleta eu também preciso, às vezes, de tempo e silêncio. Têm acontecido algumas coisas muito legais na minha vida: A abertura do 8º Chacra com o pessoal da Era de Luz, minhas férias, o livro que estou lendo (O Martelo das Feiticeiras) e com isso tudo algumas respostas estão me chegando sem nem ao menos eu perguntar.
É isso aí, minha homenagem ao Dia das Bruxas, dos Sacis, do Curupira e etc é estar lendo um livro bem “bruxístico”.

Só quem é Bruxa vai me entender,
E não aceito imitações!

0 comentários, falta o seu:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...